The Promised Neverland: Jogos de poder e traquinagens políticas no jardim de infância.

Viu&Review
4 min readSep 10, 2020

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Por Otávio Conceição

Com as entradas mensais de novos animes na Netflix, sempre vem um que se destaca na vasta biblioteca do streaming. Eu sempre sou guiado a partir da sinopse da obra. ‘Retsuko é uma panda vermelha que encara o estresse e as frustrações de seu trabalho desestimulante cantando heavy metal em um karaôke depois do expediente.” foi um dos motivos para eu começar a assistir Aggretsuko. Com The Promised Neverland não foi diferente, a sinopse do anime shonen é promissora, porém caso seja lida antes de assistir a obra, pode estragar uma boa experiencia já no primeiro episódio da série. Por isso esse será um review sem spoilers e sem sinopses… pelo menos até uma parte.

Estória

A estória se passa em um orfanato de crianças de 5 a 12 anos. Ele é ambientado em uma grande área verde, com gramas e florestas. As crianças vivem felizes com a amada Mama Isabela, que é a coordenadora do orfanato e trata todas elas como se fossem seus próprios filhos. Os protagonistas da série são os amigos Emma, Norman e Ray, três das cinco crianças mais velhas no orfanato. Eles são os mais espertos (e na série se endossa muito o quão eles são mais inteligentes que as outras crianças) nas provas teóricas que acontecem no lar. A cada dois meses, uma criança é adotada no orfanato e vai embora. Ninguém pode sair do orfanato ou de sua área arbórea, o que as crianças conhecem do nosso mundo é o que aprenderam nos livros. Fora isso, as crianças vivem uma vida sem atritos, brincando de pega-pega no jardim da casa.

Norman, Emma e Ray

Prison Break encontra A fuga das Galinhas

(spoilers do primeiro episódio a partir desse paragrafo)

Porém nem tudo são rosas e logo menos Emma e Norman descobrem, de forma traumatizante, que esse lugar que vivem não é um orfanato de crianças esperando para serem adotadas, e sim uma fazenda onde elas são criadas como gado para servirem de alimento para demônios, que coordenam a fazenda e os humanos (Mama Isabela). Assim que contam para seu amigo Ray sobre a descoberta, começam a bolar um plano para fugir da fazenda. E é ai que se encontra todo o enrendo do anime: como eles vão conseguir escapar furtivamente sem que a Mama e os demônios percebam?

E então começa um jogo de gato e rato com a Mama. Eles agem como se não soubessem da verdade para não serem pegos ( enquanto planejam fugir) e a Mama age como se não soubesse que eles sabem, para manter a ordem na casa e também ter o fator surpresa sobre eles. E a meio a isso se encontram questionamentos : vão levar todas as crianças, ou vão sozinhos?; O que tem do outro lado do muro que cerca a fazenda?; Existem outras fazendas? E por aí vai. Diversos problemas surgem com as possíveis táticas de fuga, enquanto os três tem que manter a poker face, para não serem pegos. Quando acham que estão a um passo a frente da Mama, ela está a três passos a frente de Emma, Norman e Ray.

The Mamas & The Mamas

Das três coisas que mais me surpreenderam nesse anime (a primeira foi o roteiro e a segunda foi a movimentação de planos) foi a construção da vilã Mama Isabela. Ela é facilmente alguém que existiria na vida real, até alguém que existiria na nossa família. Ela é amável e gentil com as crianças, ajudando elas com o que é preciso, porém está caminhando elas para o abate, literalmente. E isso parece normal para ela, é como a vida tem que ser, mesmo amando genuinamente as crianças (pelo menos da forma dela). Ela é articulada e diz muitas coisas apenas com um sorriso ou um olhar, não precisando entrar nas características de um vilão nefasto. O fato dela não se preocupar que as crianças descobriram a verdade sobre a fazenda não a deixa alarmada, porque sabe que tem o controle sobre elas, mesmo estando em uma situação arriscada. Ela sabe que estão atuando para ela, porque atuar sempre foi uma das funções de uma Mama. Ao decorrer dos episódios a narrativa nessa personagem só fica mais interessante. Um contra que eu tenho é que essa personagem incita frases racistas durante um episódio contra uma outra personagem que em si já é extremamente ofensiva, devido aos seus trejeitos faciais desenhados pejorativamente…incomoda bastante.

Diferente de outros animes shonen, TPN não possui lutas e/ou protagonistas masculinos, aqui se pode dizer que é a Emma quem comanda a narrativa, e faz isso muito bem, por ser é uma personagem tão cativante. Vale a pena acompanhar a jornada dela e de seus amigos. Ainda na sua primeira temporada, The Promised Neverland é um prato cheio para quem gosta de jogos de intuição e manipulação.

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