The Promised Neverland: Jogos de poder e traquinagens políticas no jardim de infância.
Por Otávio Conceição
Com as entradas mensais de novos animes na Netflix, sempre vem um que se destaca na vasta biblioteca do streaming. Eu sempre sou guiado a partir da sinopse da obra. ‘Retsuko é uma panda vermelha que encara o estresse e as frustrações de seu trabalho desestimulante cantando heavy metal em um karaôke depois do expediente.” foi um dos motivos para eu começar a assistir Aggretsuko. Com The Promised Neverland não foi diferente, a sinopse do anime shonen é promissora, porém caso seja lida antes de assistir a obra, pode estragar uma boa experiencia já no primeiro episódio da série. Por isso esse será um review sem spoilers e sem sinopses… pelo menos até uma parte.
Estória
A estória se passa em um orfanato de crianças de 5 a 12 anos. Ele é ambientado em uma grande área verde, com gramas e florestas. As crianças vivem felizes com a amada Mama Isabela, que é a coordenadora do orfanato e trata todas elas como se fossem seus próprios filhos. Os protagonistas da série são os amigos Emma, Norman e Ray, três das cinco crianças mais velhas no orfanato. Eles são os mais espertos (e na série se endossa muito o quão eles são mais inteligentes que as outras crianças) nas provas teóricas que acontecem no lar. A cada dois meses, uma criança é adotada no orfanato e vai embora. Ninguém pode sair do orfanato ou de sua área arbórea, o que as crianças conhecem do nosso mundo é o que aprenderam nos livros. Fora isso, as crianças vivem uma vida sem atritos, brincando de pega-pega no jardim da casa.
Prison Break encontra A fuga das Galinhas
(spoilers do primeiro episódio a partir desse paragrafo)
Porém nem tudo são rosas e logo menos Emma e Norman descobrem, de forma traumatizante, que esse lugar que vivem não é um orfanato de crianças esperando para serem adotadas, e sim uma fazenda onde elas são criadas como gado para servirem de alimento para demônios, que coordenam a fazenda e os humanos (Mama Isabela). Assim que contam para seu amigo Ray sobre a descoberta, começam a bolar um plano para fugir da fazenda. E é ai que se encontra todo o enrendo do anime: como eles vão conseguir escapar furtivamente sem que a Mama e os demônios percebam?
E então começa um jogo de gato e rato com a Mama. Eles agem como se não soubessem da verdade para não serem pegos ( enquanto planejam fugir) e a Mama age como se não soubesse que eles sabem, para manter a ordem na casa e também ter o fator surpresa sobre eles. E a meio a isso se encontram questionamentos : vão levar todas as crianças, ou vão sozinhos?; O que tem do outro lado do muro que cerca a fazenda?; Existem outras fazendas? E por aí vai. Diversos problemas surgem com as possíveis táticas de fuga, enquanto os três tem que manter a poker face, para não serem pegos. Quando acham que estão a um passo a frente da Mama, ela está a três passos a frente de Emma, Norman e Ray.
The Mamas & The Mamas
Das três coisas que mais me surpreenderam nesse anime (a primeira foi o roteiro e a segunda foi a movimentação de planos) foi a construção da vilã Mama Isabela. Ela é facilmente alguém que existiria na vida real, até alguém que existiria na nossa família. Ela é amável e gentil com as crianças, ajudando elas com o que é preciso, porém está caminhando elas para o abate, literalmente. E isso parece normal para ela, é como a vida tem que ser, mesmo amando genuinamente as crianças (pelo menos da forma dela). Ela é articulada e diz muitas coisas apenas com um sorriso ou um olhar, não precisando entrar nas características de um vilão nefasto. O fato dela não se preocupar que as crianças descobriram a verdade sobre a fazenda não a deixa alarmada, porque sabe que tem o controle sobre elas, mesmo estando em uma situação arriscada. Ela sabe que estão atuando para ela, porque atuar sempre foi uma das funções de uma Mama. Ao decorrer dos episódios a narrativa nessa personagem só fica mais interessante. Um contra que eu tenho é que essa personagem incita frases racistas durante um episódio contra uma outra personagem que em si já é extremamente ofensiva, devido aos seus trejeitos faciais desenhados pejorativamente…incomoda bastante.
Diferente de outros animes shonen, TPN não possui lutas e/ou protagonistas masculinos, aqui se pode dizer que é a Emma quem comanda a narrativa, e faz isso muito bem, por ser é uma personagem tão cativante. Vale a pena acompanhar a jornada dela e de seus amigos. Ainda na sua primeira temporada, The Promised Neverland é um prato cheio para quem gosta de jogos de intuição e manipulação.