AVISA QUE NÃO FLOPOU!

REVISITANDO ARTPOP 8 ANOS DEPOIS DE SEU LANÇAMENTO

Viu&Review
6 min readApr 29, 2021

Por: Joanne Labixa

“ERA MUITO CEDO! A cultura está mais pronta hoje do que ela estava na época. ARTPOP era extremamente rebelde, Eu não iria aderir a apenas um look, mas a TODOS os looks[…]” declara Lady Gaga numa entrevista à Zane Lowe, quando questionada sobre o ARTPOP.

ARTPOP foi lançado em 11 de novembro de 2013 com uma campanha extremamente ambiciosa, que prometia um produto performático que, segundo à própria cantora, produziria o efeito contrário ao que Warhol fez: ela traria a arte para a cultura pop, transformando o artista, ao mesmo tempo, na musa e na tela.

O álbum foi lançado durante um grande evento, a ‘artRAVE’, onde Gaga trouxe inúmeras intervenções de variados artistas visuais e performou as músicas de sua mais nova criação. ARTPOP, então, vem ao mundo junto à um APP, que prometia ser um espaço de interação e criação para os fãs da cantora (os Little Monsters), onde esta tambem começaria a divulgar conteúdos exclusivos.

Musicalmente falando, Gaga dizia querer trazer, com o ARTPOP, a música que ela fazia no começo de sua carreira, mas de uma forma descomplicada, para que os fãs pudessem entender de forma “mais simples”, uma óde à música eletrônica e à cultura pop. Mesclando este estilo musical à visuais, performances, aparições e looks extremamente abstratos e elaborados, a cantora tinha o produto dos seus sonhos em mãos.

“Eu disse “my ARTPOP could mean anything” e quando eu, como uma artista, levanto a mão e digo “eu não vou me encaixar à algum comportamento ou arquétipo, só porque deixa o mundo confortável”, o mundo me diz “Vá se fuder, eu não estou confortável.””, declara ela na mesma entrevista citada acima.

Meses depois de seu lançamento, singles seriam cancelados, o aplicativo, descontinuado, a divulgação interrompida. Cansada de não possuir controle sobre sua própria visão artística, Gaga se encontra em um estado de depressão profunda.

“Eu estava exausta de brigar com as pessoas. Eu não conseguia sentir o meu próprio batimento cardíaco. Eu estava brava, cínica e sentia essa tristeza profunda como uma âncora se arrastando por onde eu ia. Eu não queria mais lutar […]”.

8 anos depois, a internet revisita o ARTPOP e tenta apagar as marcas do suposto “flop” sofrido pela obra.

O álbum passeia entre nuances de um eletropop frenético, por vezes experimental, por vezes oitentist. ‘Aura’, faixa que abre o álbum, é um sutil grito de liberdade artística, onde Gaga nos apresenta numa narrativa instrumental própria e experimental, o que nos espera no ARTPOP.

A produção de Infected Mushroom é seguida por ‘Venus’ e ‘G.U.Y.’, duas das melhores faixas do álbum, que utilizam trocadilhos e metáforas para discorrerem sobre o universo sexual feminino. Enquanto a primeira nos leva à uma viagem interestelar com inúmeras

faixas vocais e instrumentais justapostas, a segunda parece ter saído de um Arcade nos anos 80, utilizando samples de videogames antigos em meio à selva de sintetizadores de Zedd.

‘Sexxx Dreams’ fecha a primeira parte do álbum. Sensual, misteriosa e deliciosa, nela, a cantora nos leva de volta aos anos 80, com singela influencia disco misturada à um synthpop, com guitarras sensuais e batidas marcantes, aqui nos deitamos na mesma cama que Gaga, enquanto ela nos conta sobre seus sonhos sexuais.

Descarrilhando o trem,‘Jewels N’ Drugs’ se perde em meio a tudo que o ARTPOP propõe, e simplesmente some em sua própria confusão, mas felizmente, ‘MANiCURE’ retoma o álbum magistralmente.

Apresentando um pop/rock divertido e chiclete, talvez MANiCURE seja uma das faixas mais marcantes do álbum desde sua pré-divulgação. Aqui podemos ver toda a rebeldia e energia caótica de Gaga, enquanto ela canta sobre o amor ser o remédio que a curaria. ‘Heal me, cause I’m addicted to love’, assim, e quem não é?

Seguindo, teríamos aqui ‘Do What U Want’ parceria entre Gaga e R. K**ly, que foi removida do álbum após o cantor ser julgado e condenado por acusações de assédio sexual. A música era diferente do que Gaga já fazia, trazendo um R&B refrescante, dançante e tinha uma letra incrível sobre o assédio da mídia e dos paparazzi. Poderia ter sido igualmente grande, se lançada apenas pela cantora ou se fosse lançada no álbum ao lado de Christina Aguilera, que posteriormente se juntou à faixa.

‘ARTPOP’ chega na metade do álbum e sua letra inscita, literalmente, uma conversa entre a arte e a cultura pop, onde uma conquista a outra pouco à pouco. O instrumental difere do resto do álbum, trazendo um momento calmo de reflexão em meio ao caos, mas não deixa de lado os velhos sintetizadores, que retornam de forma agressiva e barulhenta em ‘Swine’ e ‘Donatella’.

As faixas seguintes, apesar de divertidas, explicitam a perspicaz composição de Gaga ao fazer críticas de forma irônica. Em ‘Swine’, a cantora traz uma composição raivosa sobre assédio sexual e como o trauma a marcou “Maybe I should have a little more just to stay out of my mind”. Em ‘Donatella’, por sua vez, Gaga homenageia a amiga de longa data enquanto faz uma crítica ao ardiloso e rigoroso mundo da moda. Irônica, perspicaz e deliciosamente frenética, a música foi feita, falando de forma popular, ‘para os gays baterem cabelo na boate’.

Seguindo em ‘Fahion!’, Gaga despe sua relação apaixonada pela moda. O instrumental psicodélico, digno das passarelas carrega uma letra que tem referências à David Bowie, utiliza termos da cultura Drag e palavras em francês, porque, afinal, o que é mais ‘Fashion!’ que Paris?

E o que é mais alto que Amsterdã? ‘Mary Jane Holland’ é onde Gaga trata sua relação com as drogas e com sua persona. Na ponte, a musica diz ‘When I ignite that flame and put you in my mouth, the grass eats up my inside and my brunette starts to sprout’, referenciando a dualidade que existe entre Gaga e Stefani e sobre como apenas quando sob efeito de algo, ela conseguia entrar em contato e externalizar seu verdadeiro eu.

‘Dope’ é o começo do fim. Depois de toda curtição durante todo o álbum, Gaga abdica de tudo e se desculpa por seus excessos enquanto canta para os fãs e para sua família que precisa mais deles que das drogas. Colocada em um ponto estratégico, a música fecha o álbum (/performance/show/festa/rave) e dá lugar ao “Encore”, com ‘Gypsy’ e ‘Applause’.

Com a letra mais pessoal do ARTPOP, ‘Gypsy’ é uma carta de amor, uma conversa perdidamente apaixonada, onde Gaga se declara ao seu amante e ao mundo. Ela o ama e acima disso, ama os lugares por onde já passou. A produção da música segue a linha do álbum, com algo mais puxado para um EDM mainstream e upbeat.

O ato final de toda performance, o aplauso, é o ato que fecha o álbum. ‘Applause’ é extremamente pop, e a que mais se aproxima de algo que Gaga já tinha feito. A proposta bebe da mesma fonte que G.U.Y., temos os sintetizadores e os sons de videogames prontos para a pista de dança. “O que eu desejo é performar ao vivo, e criar uma conexão com meus fãs, e ouvi-los gritar porque estão felizes.”

ARTPOP pode não ser o maior álbum de Gaga, mas como todos os outros, teve impacto, tanto comercial, quanto cultural: os looks e performances integravam tecnologia à moda e arte à música , as influencias do Hyperpop, estilo que hoje borbulha no mainstream, já cresciam na produção do álbum, logo, não é surpresa que hoje o álbum seja revisitado e tenham borbulhado reviews reavaliando o álbum.

“Pop culture was in art, now art’s in pop culture in me.”

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