O Delírio é a Redenção dos Aflitos: fugindo da realidade

Viu&Review
3 min readApr 1, 2021

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Por: Otávio Conceição

“Toda história que eu crio, me cria. Eu escrevo para criar a mim mesma.” — Octavia E. Butler

Quais são os benefícios de nos distanciarmos da realidade? Existe alguma vantagem em mergulhar na fantasia subjetiva? Ultimamente, nesse momento em que a calamidade faz uma redoma à nossa volta, me encontro em uma linha tênue entre criar para fugir (e para me construir) e me segurar ao que está acontecendo dentro da própria realidade, porque afinal não devemos alienar. Não podemos fugir dela por completo, ela está espessa e muito fincada no chão. Em ocasiões, é deveras desafiador imaginarmos outros lugares e outras vivências quando a nossa está demonstrando tanta potência ao olhar, desmoronando. Às vezes é difícil fugir.

Em “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” vemos como pode ser provocante trançar um híbrido de fantasia com real, delírio com a aflição humana. Aqui a “criação” não é feita com o intuito de trazer distanciamento do real e sim atenuar a atual situação de Raquel, personagem principal do curta. Inconformada em ser a última a se mudar de um apartamento condenado com sua família, ela percorre um dia dificílimo em pleno Natal. Com uma filha pequena, um marido que não ajuda da forma que deveria, uma casa sucateada e além de tudo isso dias seguidos de insônia, podemos imaginar que Raquel está totalmente desgastada e enraizada na sua vida, na sua realidade. Fugir dela seria uma tarefa árdua. Porém, adaptá-la a sua perspectiva seria um caminho mais sugestivo. Não fica necessariamente evidente se essa fantasia subjetiva ocorre de fato. Mas sabemos a índole da personagem, o que me parece suficiente.

Nash Laila consegue transmitir a insatisfação da personagem Raquel tranquilamente, seus trejeitos e feições expressam canseira, fadiga. Vemos que a muito está se sentindo derrotada pela vida. A história corre muito homogênea pela vida de Raquel, de sua casa pro seu trabalho, de sua família a suas amigas, de seu pesadelo até seu delírio. É interessante ver a construção narrativa. O design de produção do curta também é uma coisa a se comentar, todas as locações dialogam entre si e soam bem mais realistas em conjunto. Junto com a fotografia é um dos pontos fortes do filme.

O Delírio é a Redenção dos Aflitos mostra que podemos construir narrativas no nosso próprio mundo, sem precisar fugir dele ou enganar a realidade. Nem de longe é um feito inédito, mas com certeza é uma coisa que não vemos muito por aí. Já é o suficiente para tentar usar como referência na nossa própria vida.

O filme está disponível no site Porta Curtas : https://portacurtas.org.br/filme/default.aspx?name=o_delirio_e_a_redencao_dos_aflitos

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