[MIMB2020] Motriz : Impulsão do afeto materno
Por Otávio Conceição
“Me espera que estou indo te ver."
Não é fácil fazer declarações afetivas. Ainda mais quando ela é registrada em uma obra audiovisual. O nível de exposição e intimidade compartilhada com o público é uma coisa que não deve ser subestimada. Ela é poderosa. Ela carece de uma técnica aprimorada e uma linguagem (documental ou não) que cative quem assiste, afinal a questão principal de uma obra é causar uma resposta sentimental no espectador.
Motriz consegue fazer esse trabalho com primor. A direção de Taís Amordivino é intimista e imersiva, e é aqui que encaixamos a potência cativante da obra, pois somos sugados para a casa e o dia-a-dia de Nilzabete Oliveira Santos, o corpo e alma (porém não a perspectiva) da narrativa. Vemos Taís destrinchar a vida de Nilzabete como uma descrição de um personagem em um roteiro. A câmera divide a atenção entre Dona Nilzabete e a linda paisagem de Minas, dando leveza ao fator imagético, um grande trunfo da fotografia, que ao mesmo tempo que nos dá um rosto e um lugar para a história, ela o faz isso de uma forma sentimental e me faltando palavras, acalentadora. Como se estivéssemos longe daquele lugar a tanto tempo que ao voltarmos temos uma sensação de nostalgia. Mas que na verdade é um deja-vu.
E isso faz sentido pois umas das camadas do filme é o fato de que a filha está retornando para casa depois de um período imenso de saudades da mãe, e vice-versa. A nostalgia faz sentido.
Motriz é uma carta aberta de uma filha para sua mãe. Mas mais do que isso, Motriz é a obra final da força de impulsão de Nilzabete sobre sua filha e sua carreira cinematográfica. O filme está disponível até o dia 09 de outubro na Mostra Mimb 2020.
Link do filme: https://www.videocamp.com/pt/campaigns/mostra-mimb3-motriz/player?special_id=112445