[MIMB2020] “Nascente”: um rio de sensações não-traduzíveis

Por Lina Cirino

O primeiro filme que vi da Safira Moreira foi em sala de aula. Ela foi uma das referências que estudamos na matéria de documentário, aqui na UFRB. Travessia (2017), mulher, que filme! Arrancou suspiros, debates e inspiração por aqui (e pelo visto, Brasil adentro e afora). Nascente (2020) é uma outra proposta de curta que só ratifica o talento e versatilidade dessa cineasta baiana. Um plano-sequência de arrepiar.

Não sei muito o que falar. Sinceramente. O curta bateu forte em mim. É um filme de sentir. Nomear é insuficiente.

Ver um filme, série ou vídeo é um ato de percepção e leitura . À medida que imagens e sons passeiam pela tela, signos - ícones, índices e símbolos - nos são apresentados para interpretação. Quando traduzimos esses signos, operamos o processo de logicidade para a criação de sentidos. No plural, porque mais de um sentido pode ser criado ao associarmos os mesmos signos.

Esse processo não é puramente lógico. É também sensível. Sensações são acionadas por nossos sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) quando estamos imersos num filme. Algumas são traduzíveis dentro do nosso repertório de conversão do sentir para o saber. Outras, apesar de percebidas, não cabem em palavras, discursos ou narrativas. Nem por isso são inexistentes ou irrelevantes para o processo de percepção. Foi assim que percebi Nascente (2020): um rio de sensações não-traduzíveis.

Meu corpo reconheceu ali na tela muitos signos do Candomblé, que atravessam os cinco sentidos: folhas, sons, incenso, pipoca, dança. Há também o espelho, que marca o tempo do filme: seu início, meio e fim. O espelho (abebé) é símbolo de Oxum e de Yemanjá, por exemplo. Pode representar a beleza dessas Orixás, mas também pode significar outra coisa: o processo de autoconhecimento. O caminho da interpretação é repleto de possibilidades. E o caminho das sensibilidades é cheio de “!!!”

Como eu disse, o filme é de sensações e sentidos. É muito difícil escolher palavras para descrevê-lo. Não quero estragar tamanha sensibilidade. Quero mesmo é agradecer Safira Moreira por esses cinco minutos que me deixou sem palavras.

Veja o filme através do link:

https://www.videocamp.com/pt/campaigns/mostra-mimb3-nascente/player?special_id=116903

Link do Instagram da Mostra MIMB:https://instagram.com/oficialmimb?igshid=10tcdmzhwpgws