[MIMB2020]Casca de Baobá: dizem que é bom para memória

Viu&Review
2 min readOct 4, 2020

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Por Lina Cirino

Mariana Luiza (2017) entrega a nós, espectadores, cartas visuais. Um lindo filme que tensiona o que é real e o que é fabulado, ali, nos cotidianos de mãe e filha separadas pelo espaço, mas unidas por poéticas, memórias e raízes. Vemos nas cartas imagéticas os encontros e contrastes entre olhares e reflexões de duas gerações sobre corpo-negro-território.

Nas primeiras correspondências, enquanto Maria conta a sua mãe (e a nós) sobre a exotização do corpo quilombola, na Universidade, ouvimos de sua mãe (Francisca) notícias do cotidiano do Quilombo da Machadinha: o memorial que tá fechado, a mãe de alguém que tá doente, o restaurante que não funciona, o desajuste do seu corpo que não imaginava ter de voltar ao canavial, para sobreviver. De que século falamos?

Os contrastes estão presentes também nos territórios. Nas cartas de Maria, enviadas do Rio de Janeiro, a mise-en-scene é repleta de concreto e discrepâncias: a Cidade Maravilhosa (para quem?) logo é desmascarada: “O Rio de maravilhoso só tem mesmo a vista, uma cidade muito dura, aqui é cada um por si”. Ao passo que dona Francisca envia suas cartas da Machadinha – outras paisagens. Outras formas de ver-viver paisagens: não são só vistas… são histórias e memórias em biosmose com o território, que constroem subjetividades, identidades e atravessam gerações.

A árvore do esquecimento (Baobá) é um dos dispositivos diaspóricos usados na trama que, na contramão da intenção racista de seu símbolo, resgata o lembrar, a importância da memória e da ancestralidade na tessitura das identidades dessas mulheres do filme (filha, mãe, avó, bisavó, tataravó). Não dá pra esquecer, mas dá pra ressignificar. E a casca do Baobá – enviada junto com a carta – nos lembra sobre o que não devemos esquecer:

As narrativas dessas mulheres (fictícias, mas reais) foram invisibilizadas pela História. Aquela com H maiúsculo e no singular contada (por quem?) nos livros. Mas sabemos que a História não é linear – ela é construída. Não é um destino, mas ação. Portanto, ela pode ser transformada (e não apenas assistida). E Mariana Luiza faz esse movimento cirúrgico: resgata o passado e fabula memórias quilombolas (passado-presente-futuro) através deste contra-dispositivo: Baobá, a árvore do esquecimento.

Link para assistir ao filme na programação da MIMB 2020 que acontece de 30/09 até 09/10:
https://www.videocamp.com/pt/campaigns/mostra-mimb3-cascadebaoba/player?special_id=113681

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