[MIMB2020] A Beleza Agridoce de "DEUS"
Por Otávio Conceição
Essa é uma história de uma mãe e seu filho. É isso.
As diversas possibilidades de um filme dentro dessa temática são quase infinitas. Somos bastante absorvedores de uma cultura cinematográfica (eu diria estadunidense, mas nem tanto) que faz um divisa um tanto infeliz com esse tema, especialmente e exclusivamente quando o "indivíduo" materno é uma mulher preta. Se vasculharmos com afinco, vemos que grande parcela das personagens maternas destinadas a mulheres pretas são referenciadas a adjetivos como: raivosa, mesquinha, ressentida, alarmante, inferior...e isso, pessoalmente para mim soa um tanto irônico, e não porque eu nego a existência de personalidades assim, mas essas características nerfadas e infernais não correspondem de forma verídica a realidade social.
É claro, obviamente se historicizarmos todo esse contexto culpabilizante da mulher preta na mídia, esse padrão não soaria tão surpreendente. Porém é bom notar que novas perspectivas culturais crescem a cada dia. Novas adaptações do que é ser uma mãe preta em uma sociedade estão sendo devidamente reconhecidas. E com louvor. E é aqui que DEUS se encontra. Vinicius Silva não faz só um filme que nega todos esses adjetivos inferiores, mas põe nossas mães em um lugar de divindade, e sem fazer esforço.
Câmeras estáticas, dia-a-dia de uma mãe e seu filho, DEUS não precisa de muito para chamar nossa atenção. A convivência registrada em planos pontuais dessa relação materna mostra situações corriqueiras (sem entregar muito do contexto da narrativa) e apresenta personagens extremamente carismáticos. Roseli Isabel e Breno da Silva de Araújo são simplesmente adoráveis. A dinâmica entre eles funciona muito bem em um espaço tão pequeno. Os vinte e cinco minutos de filme parecem passar depressa e boa parte disso acontecer é devido a química dos dois. Comentários rotineiros como: "mãe tá na hora de você trocar de pijama", funcionam muito bem, e trazem um viés cômico. A fotografia também é algo a se comentar, os planos tanto internos quanto externos são primorosos. A captação de som funciona bem, algo difícil de ser feito com planos tão longos e profundos.
E o filme preenche muitas camadas que poderiam ser esquecidas, mas durante todo o seu trajeto narrativo temos algumas pinceladas de outros nichos de um vida materna. Praticamente uma menção ao "ser mãe não é apenas ser mãe".
Serei bem simplista e muito menos acadêmico ao dizer que eu gostei de DEUS. E o terminei com uma sensação de culpa por ter achado sua linguagem tão tocante. Na realidade, a realidade não é tão tocante assim. As mazelas existem. Os problemas da rotina existem. E por isso tive uma sensação tão agridoce quanto ao seu fim. É difícil associar tanta beleza a algo tão intragável. Mas ainda sim, me fez despertar o pensamento de que DEUS estava mais próximo de mim do que imaginava: DEUS é minha mãe.
Link para assistir ao filme:
https://www.videocamp.com/pt/campaigns/mostra-mimb3-deus/player?special_id=116925
Link do Instagram da Mostra MIMB:
https://instagram.com/oficialmimb?igshid=10tcdmzhwpgws