Melhores Trocas Audiovisuais de 2021

Viu&Review
9 min readJan 7, 2022

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um balanço dos conteúdos atemporais que me abraçaram ano passado

Por Otávio Conceição

2021 foi um acontecimento, não? É difícil pensar nas coisas que aconteceram esse ano sem fazer uma associação com 2020. As vezes me pego refletindo que foram anos que os acontecimentos vieram em combos sortidos.

Bom, eu não sou o tipo de escritor que reflete todo final de ano sobre realizações e conquistas, até porque convenhamos, para mim, foi difícil conquistar algo significativo em 2021. Já tivemos anos melhores. Não sei se aprendi alguma lição esse ano, ou se consegui transmitir algum sentimento (pela minha escrita, pelos meus filmes, etc). Acho que minha única certeza é que foi o ano que tive mais incertezas.

Mas o que eu fiz esse ano foi assistir. Assisti muito pouco, mas assisti. E uma coisa que notei é que muitos do que trabalham com audiovisual, começaram a ter uma repulsa incontrolável pela tela. Talvez seja complicado assistir um filme com o mundo todo desabando ao seu redor. Ou talvez nossos olhos só estejam cansados.

Eu sei que meus olhos estavam.

E uma culpa surgia toda vez que perdia um conteúdo novo. Uma culpa de não conseguir acompanhar a demanda, as novidades artísticas, as obras do momento. Foi difícil me desfazer dessa culpa. O que me ajudou bastante foi criar uma regra para mim mesmo de que o que eu iria assistir era por mim e para mim. É estranho dizer isso? Parece que todos escolhem e deveriam escolher o que assistir dessa forma. Mas nunca foi o meu caso, na maioria das vezes. Ainda mais nos últimos anos. Eu passei a ter uma fome incontrolável de assistir por obrigação e para me manter atualizado.

Mas enfim, foi a partir dessa nova regra, de frear essa incontrolável e forçada absorção de conteúdo, que eu consegui ter um dos anos mais significativos (referente ao audiovisual) da minha vida. E me pareceu um desperdício e também uma atitude ingrata eu não devolver o que essas obras me proporcionaram esse ano. Por isso, saindo do meu convencional, resolvi fazer uma lista das minhas melhores trocas audiovisuais do ano de 2021. As obras que conseguiram me tocar de alguma forma, e que conseguiram suprir uma necessidade que eu nem sabia que faltava em mim. Me senti compelido a dar um singelo retorno. Singelo também porque não conseguiria elaborar diversas criticas sobre essas obras, uma das coisas que descobri esse ano que passou é o meu dom avassalador para procrastinar.

Mas, antes de começar, eu tenho que agradecer a você, leitor, que acompanhou o Viu&Review em 2021, que leu os textos dos nossos incríveis críticos, que curtiu e compartilhou nossas publicações, que entregou um pouco do seu tempo para prestigiar nosso trabalho. Muito, muito obrigado!

Agora sim, para a lista*.

*(essa lista não possui nenhuma lógica curatorial, fora a lógica de favoritismo decrescente)

12- Lud Session (Ludmilla e Gloria Groove)

Era arrumando a casa ou bebendo cerveja com os amigos, esse acústico especial me acompanhou durante todo o ano. Além dos vocais das duas combinarem muito bem, a seleção das músicas e a qualidade da banda que as acompanham fez esse projeto ganhar um destaque merecido. As letras das canções parecem que foram escolhidas para contar uma história. O único defeito é que é muito, muito pouco. Já aguardo ansioso um novo projeto dessas duas artistas. Destaque especial para a última faixa “a música mais triste do ano” que até hoje me deixa arrepiado. Disponível no YouTube.

11- Zoey’s Extraordinary Playlist Temporada 2

É a comfort serie do ano (e que já tem crítica na nossa pagina!). “ZEP” nesse seu segundo ano se aprofundou em questões que eu nunca imaginaria serem desenvolvidas numa série de TV aberta estadunidense, e combinando essas novas narrativas, esses novos plots de personagens secundários, com a graça da série, que é trazer nossos pensamentos em forma de música, a junção da muito certo e proporciona momentos incríveis e emocionantes (fiquei marejado em alguns momentos, o que é muito difícil de acontecer). E ainda dá bastante pano para manga para as próximas temporadas. As possibilidades com essa proposta da série são infinitas e eu acho que esse é um dos fatores que fazem muitos de conectarem com ela. Disponível no Utorrent.

10- Shiva Baby

Uma jovem judia universitária se esbarra com seu sugar daddy no shiva da amiga de sua avó. Um enredo simples, mas com um roteiro que parece que saiu de uma sessão de expurgo na terapia. O roteiro de Emma Seligman é avassalador. Essa diretora de 26 anos constrói um ambiente hostil num espaço, uma casa na verdade, que deveria ser acolhedor. E joga sua protagonista pros lobos sem nenhuma pretensão de resgata-la. É um estudo de personagem bem bolado, envolvendo as explicitas expectativas da família e de todo o mundo sob a protagonista. Fofocas, indiretas, momentos constrangedores, o caos nessa casa pequena, cheia de pessoas, cheia de comida, é sufocante. Destaque para o fotografia nauseante do filme. A conclusão é que Shiva Baby dá uma sensação horrível ao paladar, porém é uma sensação muito gratificante. Disponível no MUBI.

9- Ora Thiago

Uma pesquisa excepcional e um timing de comédia afiado são apenas umas das qualidades que o canal do YouTube, Ora Thiago, possui. Os assuntos trazidos por esse jovem pesquisador, o Thiago Guimarães, renovam a perspectiva de que a pesquisa acadêmica não possui apenas uma régua a ser seguida. Conseguimos ver o empenho colocado em cada um dos seus vídeos, que trazem os assuntos mais sortidos possíveis. É um show de roteiro e irreverência. Um refresco para os pesquisadores.

8- Inside

Nesse “pseudo musical experimental pandêmico” da Netflix, Bo Burnham (em seu estado de graça) usa dos seus artifícios caseiros para criar um ambiente em que pode abordar, em forma de música, seus piores e melhores sentimentos e situações durante o seu isolamento. Se você é o tipo de pessoa que ficou cansado de acompanhar os conteúdos que abordam a COVID, a pandemia e outros assuntos relacionados, te peço que dê chance para esse especial. Vale muito a pena. Disponível na Netflix.

7- Trem Infinito

Nesse aqui vou deixar o enredo de lado um pouco (entrar na série sem saber sua história tem o seu valor, acredite). Esse desenho da Cartoon Network mostra como os roteiros das animações infantis seriadas estão passando por uma fase de liberdade criativa impressionante, abordando temas como trauma, impunidade e fé. Esse último tema me impressionou na sua abordagem. Até onde você iria para defender a sua crença? E o quão disposto você estaria para sacrificar a sua humanidade pelo que acredita ser a verdade? Disponível na HBO MAX.

6- A Gente Acaba Aqui

Um dos melhores curtas documentários de 2021, A Gente Acaba Aqui, da Everlane Moraes, trás intimidade a um ritual de despedida em um ano em que tivemos muitas. Uma crítica feita por mim aqui no Viu&Review destrincha mais sobre esse filme essencial que me comoveu do começo ao fim.

5- Thinya

Eu assisti a Thinya, da Lia Letícia, num momento de transição de 2020 para 2021, não me recordando ao certo a data e ocasião. Mas, mesmo com tanta incerteza do tempo, o filme continua fresco na memória, depois de tanto. O trabalho da realizadora de transformar aquelas imagens descobertas na rua, contrapostas a narração de Maria Pastora, é algo tão significativo, que me persegue como referencia até hoje. Umas das melhores obras que abordam ressignificação de imagem que já vi. Destaques importantes na montagem e designe gráfico.

4- Bojack Horseman

Depois de muito penar, de diversas tentativas falhas de começar a assistir, e também de inúmeras desistências, em 2021 eu maratonei Bojack Horseman. E eu não poderia estar mais arrependido. Não por ter assistido, mas sim ter assistido sem pausas para respirar (como meu namorado tinha indicado). As pancadas eram ininterruptas, em alguns momentos eu sentia sensações que pareciam dores físicas. Eu realmente não esperava a afunilação do enredo, que trazia segmentos cada vez mais sombrios a cada temporada. Eu imagino como deve ter sido para os fãs e elenco acompanhar anualmente os personagens indo para caminhos sem volta devido as suas ações, que no fim, eram apenas estupidamente humanas. E eu acho que a animação conseguia explicar muito bem cada movimento de decisão dos personagens, cada deslize, cada acerto, e era isso que a tornava especial para mim. Bojack Horseman conseguia por em texto situações que aconteceram na minha vida que eu nunca consegui explicar, nem para mim mesmo.

Eu sou grato pela troca que tive com a série mas posso falar que assim como eu, muitos que assistem “BH” não voltam a assistir. Porque assim como Diane, é necessário se afastar de certas coisas que te agregaram intensamente, mas que já não fazem parte da sua vida. Disponível na Netflix.

3- Passing

“Na Nova York dos anos 1920, uma mulher negra fica chocada ao reencontrar uma velha amiga e perceber que ela esconde sua verdadeira identidade e finge ser branca.” Com uma sinopse tão promissora que poderia gerar discursões e caminhar seu enredo para áreas de conflito muito interessantes, Passing decide traçar um trajeto narrativo mais sutil e promover uma guerra fria de sentimentos não proclamados, pelo menos em alguns momentos da trama. E mesmo com delicadeza, consegue abordar temas que permeiam a questão racial, tanto da década de 20 quanto dos tempos atuais, como o engajamento nas questões pretas da época, e/ou a recusa de se envolver nas causas (mostrando justificativas para os dois lados). Sexualidade, insegurança, relacionamentos afrocentrados e feminicídio são outros temas que permeiam o filme. E foi interessante acompanhar como os personagens interagiam com essas temáticas, completamente afundados nas suas questões subjetivas, sem possuir os termos ou completo entendimento do que estavam sentindo. Os atos existiam antes dos nomes.

Destaques para Tessa Thompson, Ruth Negga e André Holland que conseguiram entender a proposta do roteiro e tiveram umas das melhores atuações do ano. Disponível na Netflix.

Menções importantes:

2- TIME

Um registro e uma curadoria de imagens impecável, TIME conta a história de vida de Sibil Fox Richardson e seus filhos, que lutam pela liberdade do pai, condenado a 60 anos de reclusão por um assalto a mão armada. O documentário tem uma montagem cronológica muito boa, os eventos ocorrem ao longo de 20 anos e a carga emocional que tem no envelhecimento de Sibil e no crescimentos dos seus filhos, que a tanto tentam tirar o pai da cadeia, é muito potente. O filme faz uma critica diretíssima ao sistema carcerário estadunidense. Disponível no Prime Video.

1- The Leftovers

É uma menção porque ainda não consegui finalizar. The Leftovers não é uma série para se maratonar da noite para o dia. Um emaranhado de enredos densos que são difíceis de absorver, e que as vezes é necessário cautela a assistir. Sua narrativa seriada é quase não-linear, pontos que se conectam de uma maneira tão absurda, que chega ser quase cômico em alguns momentos. Mas, para quem não sabe, é uma série de ficção. É uma série de ficção que não é focada no seu ato ficcional, e sim na sua repercussão e seus desdobramentos, no trauma que cada personagem carrega, na culpa imensa que eles sentem (mesmo que essa culpa não faça sentido), na forma de tentar entender o que aconteceu ou apenas aliviar suas dores e angustias. Como eu disse, é muito para se carregar em um episódio, imagine em dois episódios em sequência. Mas também o que se pode esperar de uma série que conta a história de o que aconteceria se 3% da população mundial apenas desaparecesse? Seria difícil imaginar o que aconteceria, talvez um caos sem precedentes. Mas Damon Lindelof consegue criar um universo crível e assustador focado apenas nos remanescentes. E esse é o maior trunfo de The Leftovers. Disponível na HBO MAX.

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