Fleabag: Sabe aquela série?!
Por Barbara Carmo
As comédias encabeçadas por mulheres parecem uma aposta fácil para a Amazon Prime. Maravilhosa Sra. Maisel (2017) trouxe para o Prime Video diversas indicações e Emmys assim como Globos de Ouro se consolidando como um dos maiores motivos para se assinar o stream da empresa de Jeff Bezos. A verdade é que o reinado feminino, ao menos no gênero mais feliz de todos, já dura alguns anos. Na última década, cinco dos vencedores do Primetime Emmy Award for Outstanding Comedy Series (algo como Emmy para Melhor Comédia) tinham protagonistas femininas, no último ano, cinco dos sete indicados tinham protagonistas mulheres. Entre elas, é claro, estava a vencedora da noite: Fleabag (2016).
Fleabag não é de forma alguma fácil de se classificar. Ela é uma comédia e talvez essa seja a definição mais fácil de identificar considerando como somos introduzidos a história e a personagem principal, mas essa simplicidade ou até mesmo leveza não dura muito. Cada personagem e desdobramento da história nos envolve mais e mais na verdadeira bagunça de sentimentos em que Fleabag e por consequência nós mesmos nos encontramos. Luto, negação, rejeição, medo, tudo ao mesmo tempo em que piadas verdadeiramente hilárias simplesmente aparecem e nos fazem rir de forma totalmente inapropriada, nos deixando sem jeito mesmo quando estamos em teoria protegidos do nosso lado da tela. Phoebe Waller-Bridge não nos deixa assumir esse papel de descaso, no entanto, quebrando a quarta parede e realmente conversando com a audiência, como se fôssemos seus parceiros de crime aquele mundo que ninguém mais pode ver. Ou quase.
Conforme a história progride, as atuações evoluem de forma fantástica. Olivia Colman interpreta possivelmente a criatura mais odiável do planeta e consegue fazê-lo sem cair no clichê ou no caricaturismo. Bill Paterson é capaz de fazer de forma tão natural um personagem que é a chave de equilíbrio entre duas forças em cena sem parecer estar fazendo nada em absoluto. Jenny Rainsford com sua Boo consegue nos fazer cair de amores por uma personagem trágica com pouquíssimas cenas e sentir de forma definitiva a sua perda da mesma forma que Fleabag sente. Hugh Skinner e Ben Aldridge que são completamente opostos com seus personagens, mas igualmente hilários. Na segunda temporada, Andrew Scott é o destaque absoluto, especialmente nos últimos dois episódios.
Há definitivamente momentos em que histórias como Fleabag fazem mais impacto. Para muitos a série pode se tratar de uma ninfomaníaca depressiva enquanto para outros é apenas a boa e velha “Crise dos Trinta” em toda a sua glória, mas há algo de contemporâneo e familiar nas lutas e dores que Waller-Bridge expõe para aqueles chamados de millennials: A desilusão com o mundo, falta de amparo emocional, a preocupação em ser um “bom militante” para uma causa. Sintomas e questões que muitos podem se identificar, mas jamais diriam de forma tão aberta e desinibida quanto a heroína nada heróica de Fleabag. Talvez este seja o segredo da popularidade da série, além de todo o óbvio, todos nós queremos ser um pouco como Fleabag.