Até O Fim (Glenda Nicácio e Ary Rosa, 2020)

Viu&Review
3 min readJul 6, 2020

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Por Giovane Alcântara

O longa-metragem ‘Até o Fim’ (2020) dos diretores Glenda Nicácio e Ary Rosa (Café com Canela, 2017 e Ilha, 2018) é a reaproximação do público em um drama popular. O filme conta a história das irmãs Geralda (Wal Diaz), Rose (Arlete Dias), Bel (Maíra Azevedo) e Vilmar (Jenny Muller) que se reencontram depois de 15 anos, no leito de morte de seu pai — aqui um personagem quase fantasma, mesmo que ainda não morto.

Em um bar no litoral da Bahia, as individualidades e as personalidades das irmãs se misturam com lembranças afetuosas, brigas e um trauma que ainda paira e foi o estopim para a diluição da família retratada. A câmera que treme, que pega o olhar doído, a mão que corta os temperos, o copo de cerveja que caí tenta dar movimento e corpo a algo quase teatral, que repetida e repetida e repetida vezes se distancia do sentido que tenta proporcionar.

Devo assumir que a narrativa não dá conta de personagens tão fortes. Geralda exerce aqui o papel da irmã que cuida e que guarda ressentimentos pelas idas e perdas; Rose, tão bem interpretada por Arlete Dias, é a irmã que fugiu pra Cachoeira e em águas turvas do Rio Paraguaçu se criou; Bel é a irmã bem-sucedida-que-possui-um-curso-superior e que finalmente alcançou a máxima do cinema mundial, o Oscar.

Vilmar é, com toda certeza, a personagem mais complexa de toda a narrativa, que, novamente, não consegue dar conta dessa complexidade e que entre as experimentações da dupla de cineastas acaba caindo num mesmo sentido narrativo de outras produções que, em sua maioria, abarcam o tema da transexualidade. Mesmo com a tentativa dos diretores de tentar sair desse lugar, proporcionando a personagem de Jenny Muller, a representação de uma mulher bem sucedida e que conseguiu fugir dos índices que afetam a comunidade trans no Brasil.

A discussão sobre o Afeto que parece perpassar todas as produções de Glenda Nicácio e Ary Rosa se encontra mais uma vez aqui. Seja nas memórias reviradas, nas conversas das irmãs, na sede por justiça, na representação de mulheres negras e no embate sobre imaginar outros futuros possíveis. . O filme é um olhar simples sobre tantas famílias espalhadas pelos tantos brasis a fora que luta, que sente dor, que guarda mágoas, segredos, remorsos e muitas outras coisas que, hora ou outra, acabam se conectando.

“[…]Se a gente não sabe se ama e não se decide que quer. A dúvida não desinflama enquanto a gente não se der. Se algo entre nós se anuncia e não se disfarça se quer. Não dá pra deixar pra outro dia, de outra semana qualquer. É que o amor, não se dissolve assim sem dor, se não for Até O Fim”

O final emocionante nos conforta. A celebração da vida daquelas quatro irmãs que tudo enfrentaram se encontra, agora, na partilha e no entendimento sutil de que tudo deu certo, que todas as fabulações fraternas proporcionaram uma simples e intensa viagem ‘Até o Fim’.

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